22 de fevereiro de 2007

Campanha: Não temos vergonha!

"Não temos vergonha de sermos transgéneros, transexuais, amigos, companheiros ou simpatizantes" é o nome da mais recente campanha virtual da ªT. - Associação Para o Estudo e Defesa do Direito à Identidade de Género.

Uma iniciativa que surge numa altura em que se relembra o brutal assassinato de Gisberta Salce Júnior, no Porto, vitima do preconceito e da discriminação social e institucional que culminou no lamentável desfecho do caso, como se de um crime menor se tratasse, com o beneplácito de muitos e a indiferença de muitos outros.

Para mais informações sobre esta campanha clique aqui e para aderir basta enviar uma foto em que o rosto esteja bem visível, nome, país e actividade profissional para o email: atrans.pt@gmail.com.

1 comentário:

Siona disse...

Só é pena que a campanha tenha como mote esta pequena monstruosidade:

'NÃO TEMOS VERGONHA DE SERMOS TRANSGÉNEROS, TRANSEXUAIS, AMIG@S COMPANHEIR@S OU SIMPATIZANTES! O maior segmento da comunidade transgénero, (transexual incluido) luta por uma melhor assimilação social e recusa fazer parte de qualquer comunidade que se defina como “oculta” ou "invisivel".'

O objectivo não é tanto celebrar o orgulho da comunidade Transexual, na ocasião do aniversário da morte da Gisberta, como é ostracizar uma parte da comunidade: aquela que não se apresenta publicamente como Transexual. Ou seja, a tal comunidade oculta / invisível.

Que são, ao contrário do que o texto quer fazer acreditar, a grande maioria de nós. Praticamente todas as pessoas Transexuais que chegam a um ponto em que já não apresentam sinais exteriores da sua Transexualidade (ou seja, quase todos os Homens Transexuais, e a maioria das Mulheres Transexuais), preferem não se apresentar em sociedade como Transexuais. Poderão contar à família, amigos, e outras pessoas em que sabem confiar, mas não a toda a sociedade à sua volta. Não porque tenham vergonha. Mas porque têm medo. Medo de uma sociedade que enxovalha, tortura ao longo de dias, e assassina pessoas. Só por serem Transexuais.

O que me envergonha é continuarem a não haver as condições para assegurar a segurança física, quanto mais o respeito, de quem é Transexual. E de que algumas (poucas) pessoas, que têm feito mais contra a nossa imagem do que outra coisa, e que querem, à viva força, impôr-se como as únicas legítimas representantes da comunidade Transexual, aproveitem a morte da Gisberta não para apontar o dedo a quem a matou, quem (des)protegeu os rapazes que a mataram, quem os absolveu, quem não se incomodou a legislar sobre os nossos direitos, desde então, quem não aceita melhorar as condições da transição clínica nos hospitais públicos, mas... ao resto da sua própria comunidade. Que é, é claro, quem é a culpada de tudo isto.

Sim, tenho vergonha. Vergonha de ver "campanhas" como esta acontecerem. Sob a capa do "orgulho", algumas pessoas querem desesperadamente não perder o protagonismo, prosseguir questiúnculas pessoais publicamente, e discriminar a maioria da sua própria comunidade. Mas fazer algo de realmente útil, como redigir uma proposta para uma lei de identidade de género... isso já não será com estas pessoas.

Shame on them!